Indígenas



Conhecidos também como Kampa, os Ashaninka integram junto com os Piro, Amuesha, Matsiguenga e Nomatsiguenga, o conjunto dos arawak pré-andinos, ramo ocidental da família linguística arawak.
O termo Kampa, de origem desconhecida, foi largamente utilizado nas fontes coloniais - as primeiras referências detalhadas sobre os Ashaninka são do ano de 1595 (Varese, 1968 - porém, trata-se de um nome atribuído não aceito por eles; sua autodenominação é Ashaninka, que significa gente, seres humanos.
Habitantes do piemonte andino, chegaram ao limite de sua expansão rumo ao oriente, nos confins do sudoeste da amazônia brasileira, região de fronteira entre Brasil e Peru, em terras acreanas. Com uma população em torno de 30.000 indivíduos, os Ashaninka representam quase a metade da cifra estimada para o conjunto dos arawak pré-andinos, que é de 70.000.
Em território peruano, onde está a grande maioria desta população, habitam as regiões dos rios Apurímac, Ene, Perené, Tambo, alto Ucayali, Pachitea, e ainda o altiplano do Gran Pajonal.
Os Ashaninka da porção brasileira da amazônia tem sua população estimada em 500 indivíduos, distribuídos entre os rios Amônia, Arara e Breu, tributários do rio Juruá, e Envira, afluente do rio Tarauacá. O rio Amônia concentra a maior parte desta população, com 318 indivíduos - conforme censo realizado em setembro de 1998. Procedentes principalmente do alto rio Ucayali e do rio Tambo, as primeiras famílias que ocuparam o rio Amônia, fizeram-no de forma permanente no início da década de 40; muito embora a presença Ashaninka na amazônia brasileira seja mais antiga, podendo remontar ao século XVIII, conforme fontes disponíveis (Castelo Branco 1950:8).
Vivem em pequenos grupos espalhados pela floresta, formados por famílias nucleares conectadas através de relações de parentesco. Tais núcleos familiares, compostos de um homem, sua(s) esposa(s), filhas e filhos solteiros, constituem a base social e econômica da sociedade Ashaninka. Organizam-se em torno de um homem mais velho, em geral um sogro, formando o grupo local, unidade autônoma tanto do ponto de vista político como econômico. Um sogro de grande prestígio pode ampliar sua área de influência política, reunindo alguns grupos locais, criando assim um território político.
Tal prestígio, que outrora estava relacionado ao talento de um homem enquanto guerreiro, vincula-se, atualmente, mais à sua capacidade de fazer alianças com o exterior, garantindo o acesso regular a produtos manufaturados.
A economia Ashaninka é baseada, principalmente, no cultivo da mandioca (manihot aypi), na caça e na pesca. Embora a pesca e a coleta não sejam tão valorizadas culturalmente como a caça, constituem importantes fontes de proteínas na dieta cotidiana.
Cada família nuclear possui seu roçado e é economicamente autônoma. Tal autonomia não exclui relações de intensa reciprocidade entre as unidades familiares, pois a carne e o peixe são distribuídos, pela esposa do caçador ou pescador, dentro do grupo local.
Os produtos do roçado não são distribuídos, mas partilhados socialmente em forma de uma bebida chamada piyarentsi - bebida fermentada de mandioca, chamada de caiçuma pelos regionais -, considerada um legado de Pawa, que é consumida em reuniões feitas para esta finalidade.
Os Ashaninka, ao reunir-se para beber piyarentsi, embriagam-se e brincam, tal como os seus deuses; assim, acreditam estar celebrando os preceitos de Pawa - divindade maior dos Ashaninka - e reproduzindo a boa ordem do universo.
Fontes de InformaçãoMargarete K. MendesTAWAI
outubro de 1999

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